sábado, 21 de maio de 2011

Sobre ter 19 anos (e algumas outras coisas)

Os hobbits eram grandes quando eu tinha 19 anos (um número
de alguma importância nas histórias que você vai ler).
Havia provavelmente meia dúzia de Merrys e Pippins
marchando pelo barro da fazenda de Max Yasgur durante o
Grande Festival de Música de Woodstock, o dobro disso em
número de Frodos, e Gandalfs hippies sem conta. O Senhor dos
Anéis, de J. R. R. Tolkien, era tremendamente popular naquele
tempo e, embora eu nunca tenha passado por Woodstock (certo,
é uma pena), acho que fui no mínimo um meio-hippie. O
suficiente, sem dúvida, para ter lido a coleção e me apaixonar por
ela. Os livros da Torre Negra, como a maioria dos romances
fantásticos escritos pelos homens e mulheres da minha geração
{As Crônicas de Thomas Covenant, de Stephen Donaldson, e A
Espada de Shannara, de Terry Brooks, são apenas dois dentre
muitos), tiveram suas raízes nos de Tolkien.
Mas, embora eu tenha lido a coleção em 1966 e 1967,
demorei a escrever. Reagi (e com um fervor algo tocante) ao
ímpeto da imaginação de Tolkien — à ambição de sua história —
, mas queria escrever uma história ao meu jeito e, se tivesse
começado naquela época, teria escrito no dele. Isso, como a
falecida Velha Raposa Nixon gostava de dizer, não seria direito.
Graças ao senhor Tolkien, o século XX teve todos os duendes e
magos de que precisava.
Em 1967, eu não fazia a menor idéia do tipo de história
que poderia escrever, mas não importava; confiava que ia
reconhecê-la quando ela cruzasse comigo na rua. Tinha 19 anos e
arrogância. Sem dúvida arrogância suficiente para achar que
podia cozinhar um pouco minha inspiração e minha obra-prima
(como tinha certeza que haveria de ser). Acredito que aos 19 a
pessoa tem o direito de ser arrogante; geralmente o tempo ainda
não começou suas furtivas e infames subtrações. Ele nos leva os
cabelos e o poder de explosão, como diz uma conhecida canção
country, mas no fundo leva muito mais. Eu não sabia disso em
1966 e 1967, e, se soubesse, não teria me importado. Podia
imaginar — vagamente — ter 40 anos, mas 50? Não. Sessenta?
Nunca! Sessenta estava fora de cogitação. E aos 19 é assim que
deve ser. Dezenove é a idade em que você diz: Cuidado, mundo,
estou fumando TNT e bebendo dinamite, por isso, se você sabe o que é
bom pra você, saia do meu caminho... aí vai o Stevie.
Os 19 são uma idade egoísta, que restringe severamente
as preocupações da pessoa. Eu tinha muita coisa na minha
frente e era o que me importava. Tinha muita ambição e era o
que me importava. Tinha uma máquina de escrever que
carregava de uma porra de apartamento pra outra, sempre com
alguma coisa para fumar no bolso e um sorriso na cara. Os
compromissos da meia-idade estavam longe, os ultrajes da
idade avançada, além do horizonte. Como o protagonista
daquela música de Bob Seger, que agora eles usam para
vender caminhões, eu me sentia infinitamente poderoso e
infinitamente otimista; meu bolso estava vazio, mas a cabeça
estava cheia de coisas que eu queria dizer e o coração cheio das
histórias que queria contar. Parece sentimentalóide agora;
soava maravilhoso então. Soava muito tranquilo. Mais que tudo,
eu queria penetrar nas defesas dos meus leitores, queria
rompê-las, capturá-las e trocá-las, para o resto da vida, por
nada mais que histórias. E sentia que podia fazer essas coisas.
Sentia que tinha sido feito para fazer essas coisas.
Até que ponto isto parece pretensioso? Muito ou pouco? De um
modo ou de outro, não peço desculpas. Eu tinha 19 anos. Não
havia um único fio grisalho na minha barba. Eu tinha três calças
jeans, um par de botas, a idéia de que o mundo era minha ostra,
e nada do que aconteceu nos 20 anos seguintes provou que eu
estava errado. Então, por volta dos 39 anos, os problemas começaram:
bebida, drogas, um acidente de carro que mudou meu modo de andar
(entre outras coisas). Já escrevi longamente sobre o assunto e não
preciso voltar a ele aqui. Além disso, para você tanto faz, certo? O
mundo acaba sempre lhe enviando a bosta de um Patrulheiro para
retardar seu avanço e mostrar quem está no comando. Você que está
lendo isto sem a menor dúvida já encontrou (ou vai encontrar) o seu; eu
encontrei o meu e tenho certeza de que ele voltará. Ele tem o meu
endereço. É um cara mesquinho, um Mau Elemento, o inimigo jurado
da piração, da putaria, do orgulho, da ambição, da música alta e de
todas as coisas dos 19 anos.
Mas ainda acho que essa é uma idade muito boa. Talvez a melhor
idade. Você pode rolar no rock a noite toda, mas, quando a música
cessa e a cerveja chega no fim, você consegue pensar. E sonhar sonhos
grandes. O Patrulheiro mesquinho acaba mais cedo ou mais tarde podando
você e, se você já começou pequeno, pois é, quando ele acaba,
não sobra quase nada além da bainha do seu corpo. Arranje outro!, ele
grita e sai marchando com o bloquinho de multa na mão. Por isso um
pouco de arrogância (ou mesmo um monte) não é tão ruim, mesmo
que sua mãe, é claro, tenha dito outra coisa. A minha disse. O orgulho
vai embora depois da queda, Stephen, disse ela... e eu constatei — bem na
idade certa, isto é, 1 9 X 2 — que você acaba mesmo caindo. Ou que é
empurrado para a vala. Aos 19, podem mandar você parar no acostamento,
sair da porra do carro, levar sua dolorida queixa (e sua bunda
ainda mais dolorida) para o meio da estrada, mas não podem apreendêlo
quando você senta para pintar um quadro, escrever um poema ou
contar uma história, pelo amor de Deus, e se por acaso você, que está
lendo isto, é ainda muito novo, não deixe os mais velhos e supostamente
mais vividos lhe dizerem nada diferente. Certo, você nunca esteve
em Paris. Não, você nunca correu com os touros em Pamplona.
Claro, você é um moleque que três anos atrás ainda não tinha cabelo
debaixo do braço... mas e daí? Se você não começa grande demais para
sua calça, como vai caber dentro dela quando crescer? Deixe que ela
rasgue, não importa o que os outros digam, esse é o meu ponto de
vista; sente-se e fume a calça.

Stephen King 25 de
janeiro de 2003

Um comentário:

  1. Você tá viva cacete, putaquipariu.
    Tentei te ligar umas 2 mil bilhões de vezes, ontem, claro, mas o telefone da sua casa does that weird shit everytime I call.
    Seu tumblr não tem askbox (fix that u__u).
    E eu acho que seu celular deve tá com algum problema.
    Eu tenho tanta coisa pra te contar, que HJWQPOHQJOPHDIJDWHIODIHDDHIOQHQWD. Pois é.
    Anyway, vou mandar um comentário por aqui, que vai que você lê né?
    Teve show do McFly ontem e eu não fui, e tá tendo show do Paul McCartney agora, e eu to aqui na merda, mas você tá viva.
    Anyway, bem vinda a terra da crise dos 19, I'm getting over mine, finalmente.
    Saudade de você sua praga.
    Te amo cara, beijo.

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